
RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS
A psicologia é uma ciência relativamente nova, influenciada por diversos outros campos de conhecimento, desde os primeiros pensamentos sobre a existência humana, passando por seu estabelecimento enquanto disciplina científica, até chegar aos debates contemporâneos. A discussão sobre o seu objeto de estudo é complexa. Por tratar questões relativas à subjetividade humana e as interações dos sujeitos com o mundo, torna-se necessário reunir saberes múltiplos para auxiliar na complexa tarefa de compreender a existência humana.
Sendo assim, a Psicologia é também uma ciência interdisciplinar, pois dialoga com outros campos do conhecimento e busca uma integração entre saberes diferentes, porém interligados. A seguir, vamos tratar de dois principais campos que dialogam com a Psicologia: a Filosofia e a Biologia.
Psicologia e Filosofia
ANTIGUIDADE GREGA
A história da Psicologia no Ocidente teve início na Grécia antiga. A civilização grega promoveu grandes avanços na arquitetura, na arte, na organização urbana e na política. Tais avanços também possibilitaram o surgimento de pensadores que, especulando assunto sobre o ser humano e sua interioridade, criaram a Filosofia, e por isso ficaram conhecidos como filósofos. Portanto, foi entre os filósofos gregos que surgiu a primeira tentativa de sistematizar a Psicologia.
Alguns pensadores contribuíram significativamente para essa sistematização. Os filósofos pré-socráticos, assim chamados por antecederem o pensador Sócrates, utilizavam a percepção para definir a relação do ser humano com o mundo. Esses estudiosos da natureza foram os primeiros a formular o entendimento do mundo pautado na racionalidade, isto é, sem recorrer a explicações sobrenaturais.

Sócrates (469 a.C. - 399 a.C.): Defendia
que a principal característica humana é a razão, que nos possibilita
ultrapassar os limites dos instintos e da irracionalidade animais. Essa ideia
acabou por influenciar conceitos psicológicos que surgiram muito tempo depois.
Platão (427 a.C.- 347 a.C.): Influenciado pelo pensamento de Sócrates, Platão buscou um "lugar" para situar a alma no corpo humano, sendo este lugar a cabeça. Platão acreditava que a alma era separada do corpo e, por isso, delimitou a medula como elemento de ligação entre a alma e corpo.


Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): As concepções aristotélicas dividiram a filosofia em duas escolas distintas, criando uma nova compreensão tanto do campo filosófico quanto do conhecimento humano em si. Para Aristóteles, a alma e o corpo não poderiam ser separados. Ele explicou o conceito de psyké como sendo o princípio ativo da vida, presente em todos os seres vivos. Assim tudo que é vivo no mundo tem sua própria psyké (alma). Aristóteles também escreveu uma obra De Anima, que versa sobre as diferenças entre razão, percepção e sensação, e pode ser considerado o primeiro tratado de Psicologia da história da humanidade.
IDADE MÉDIA
Na Idade Média, o cristianismo representava uma importante força religiosa, que estendeu-se também a força política dominante. Dessa forma, naquele período histórico, a Psicologia estava diretamente relacionada ao conhecimento religioso. Dois filósofos desta época merecem destaque por suas contribuições aos saberes psicológicos.

Santo Agostinho (354-430): Assim como Platão, Santo Agostinho também concebia a alma como separada do corpo. No entanto, para ele, a alma humana era a prova da manifestação divina em sua criatura. A alma seria, então, o elemento imortal que conecta o homem a Deus.

São Tomás de Aquino (1225-1274): Viveu em um período mais próximo do fim da hegemonia da Igreja Católica, do surgimento do protestantismo e da transição para o capitalismo. Por isso, as ideias de São Tomás de Aquino buscavam reforçar e atualizar as noções a respeito da relação entre Deus e o homem. Ele retomou a ideia de Aristóteles sobre a distinção entre essência e existência, mas introduziu o ponto de vista religioso. Para São Tomás de Aquino, a busca da perfeição pelo homem iguala-se se à busca por Deus, o único capaz de unir novamente a essência com a existência humana.
RENASCIMENTO

O renascimento trouxe um avanço em todos os campos das ciências junto a um processo de valorização do ser humano. Este avanço na produção de conhecimentos possibilitou também o início de uma organização sistemática do chamado conhecimento científico, estabelecendo seus primeiros métodos e regras básicas. Neste contexto, o filósofo René Descartes (1596-1659) foi a figura mais marcante do período para a construção da psicologia.
Descartes postulou a separação entre mente e corpo. O dualismo cartesiano considerava que o ser humano é composto por duas substâncias distintas: uma imaterial e eterna, relacionada à mente e à racionalidade; e outra material e finita, relacionada ao corpo e às sensações. Para Descartes, essas duas substâncias de naturezas distintas se uniam pela glândula pineal.
Essa separação possibilitou, na época de Descartes, o estudo do corpo humano morto, algo que antes era impensável por causa da influência dos saberes religiosos na ciência. Assim, os campos da Anatomia e da Fisiologia também ativeram avanços nesses períodos, trazendo também importantes contribuições para o progresso da Psicologia.
Psicologia e Biologia
A relação entre a Psicologia e os campos da Biologia evidencia a complexidade da ciência psicológica. Isso porque, ao estudar o ser humano, devemos considerar que ele constituído tanto pela mente quanto por um corpo físico.
No entanto, é importante lembrar que temos um
corpo biológico, feito de matéria orgânica e sujeito às mesmas necessidades
básicas que os demais seres vivos. Quando
falamos de Psicologia, não podemos simplesmente ignorar a dimensão biológico
humana. Trata-se, portanto, de levar em conta as contribuições da biologia como
dados importantes para a construção do saber psicológico.
Foi por meio da Fisiologia que a Psicologia começou a ser reconhecida como ciência, com o Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia da Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório de Psicologia Experimental, inaugurado em 1879. Foi através do estudo dos estímulos físicos de correspondentes humanos, possíveis de serem medidos e observados, que a Psicologia Científica inaugurou as possibilidades de compreensão da psique humana.

Atualmente, existe um amplo campo de discussão sobre o lugar que a Biologia ocupa na Psicologia. Novos campos de conhecimento, como a Neuropsicologia, estão sendo formados com base no estudo das funções cerebrais e suas interações com nossos pensamentos e emoções. Contudo, outras correntes defendem uma visão mais subjetiva e filosófica do ser humano, ampliando para além do cérebro a nossa capacidade de processar informações. De uma forma ou de outra, é importante termos em mente que os processos fisiológicos e psíquicos estão em constante interação e que é através de nosso corpo biológico que somos capazes de existir no mundo e construir nossa história.